O Óbvio e o Pós-Óbvio

Nossa geração sempre foi viciada em fugir do óbvio, praticamente um mantra que seguimos sempre. Inovação, disrupção, quebra de paradigmas. Mas aí vem a pergunta: o seu público entende o que é óbvio para você?

Na ânsia em criar a próxima grande coisa – quebrando paradigmas – acabamos por perder a noção de que é mesmo o óbvio que precisa ser feito. Ele é o que a grande maioria das pessoas está vivendo, é o óbvio que essas pessoas estão consumindo.

O problema é que por estarmos situados nessa bolha tecnicista, estamos sempre pensando no além dele, ficamos situados no que chamo de O pós-óbvio. O pós-óbvio é aquela piada incrível que você contou na mesa, mas que ninguém riu. O pós-óbvio – embora soe óbvio, é melhor dizer – é o futuro do óbvio, é onde ainda chegaremos, é onde nós estaremos após os muitos tijolos do evidente já estarem ordenados.

Mas não ache que pelo óbvio estaremos no pior ou no mesmo, precisamos entender o óbvio, aprendê-lo e fazer o melhor dele. Tudo no mundo é um remix, se você olhar de perto a história do computador pessoal você vai perceber isso. O que é o sistema do Mac se não uma versão melhorada do Linux (BSD pros mais exigentes)? É como pensar em como surgiram as pirâmides: a melhor conclusão é que a estrutura piramidal é óbvia, é como todos empilhamos coisas, com bases largas e novos andares cada vez menores.

Longe de querer que você deixe de inovar, é preciso inovar, é preciso quebrar paradigmas, mas é muito, muito importante fazer o óbvio. O óbvio não é necessariamente o velho, ele é o evidente, e o nosso campo de ação se restringe às evidências.

Esse trabalho de detetive, de olhar, aprender e descobrir o que é óbvio lembra muito aquela já famosa frase do grande Leminski:
Isso de ser exatamente como se é ainda vai nos levar além.